domingo, 28 de novembro de 2010

Arnaldo Antunes

Cultura
Arnaldo Antunes
O Globo: 26/07/2009

O girino é o peixinho do sapo.

O silêncio é o começo do papo.

O bigode é a antena do gato.

O cavalo é o pasto do carrapato.

O cabrito é o cordeiro da cabra.

O pescoço é a barriga da cobra.

O leitão é um porquinho mais novo.

A galinha é um pouquinho do ovo.

O desejo é o começo do corpo.

Engordar é tarefa do porco.

A cegonha é a girafa do ganso.

O cachorro é um lobo mais manso.

O escuro é a metade da zebra.

As raízes são as veias da seiva.

O camelo é um cavalo sem sede.

Tartaruga por dentro é parede.

O potrinho é o bezerro da égua.

A batalha é o começo da trégua.

Papagaio é um dragão miniatura.

Bactéria num meio é cultura.

(Disponível em http://www.arnaldoantunes.com.br/sec_textos_list.php?page=1&id=212)

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Arnaldo Antunes

agagueiraquasepalavra
quaseaborta
apalavraquasesilêncio
quasetransborda
osilêncioquaseeco

(In: 2 ou + corpos no mesmo espaço, São Paulo: Perspectiva, 1997).

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Dia dos Poetas

Pelo fim do automatismo
Pela novidade do olhar
Pelas novas formas de significar
Pelos significados que consigo
Pela imagens nunca antes vistas
Pelos sentidos nunca antes vividos
Pela crítica nunca antes sentida
E por não ficar sozinha
Poetas: é de vocês o meu respeito.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Vicente Huidobro

Arte Poética

Que el verso sea como una llave
Que abra mil puertas.
Una hoja cae; algo pasa volando;
Cuanto miren los ojos creado sea.
Y el alma del oyente quede temblando.

Inventa mundos nuevos y cuida tu palabra;
El adjetivo, cuando no da vida, mata.

Estamos en el ciclo de los nervios.
El músculo cuelga,
Como recuerdo, en los museos;
Mas no por eso teremos menos fuerza:
El vigor verdadero
Reside en la cabeza.

Por qué cantáis la rosa, ¡oh, Poetas!
Hacedla florecer en el poema;

Sólo para nosotros
Viven todas las cosas bajo el Sol.

El Poeta es un pequeño Dios.

(In: Vicente Huidobro - Antopologia Poética. Chile: Zig-Zag, 2003).

domingo, 22 de agosto de 2010

A-fago

Já jantei jiló e
de dejejum
jaca

Com você almoço salmão e
só dessert
tiramissu

Que a fome
é outra.

(Ana Amália - 14/06/2010).

domingo, 8 de agosto de 2010

Manoel de Barros

Maria-pelego-preto

Maria-pelego-preto, moça de 18 anos, era abundante de
pelos no pente.
A gente pagava para ver o fenômeno.
A moça cobria o rosto com um lençol branco e deixava
pra fora só o pelego preto que se espalhava quase até pra
cima do umbigo.
Era uma romaria chimite!
Na porta o pai entrevado recebendo as entradas...
Um senhor respeitável disse que aquilo era uma
indignidade e um desrespeito às instituições da família e da
Pátria!
Mas parece que era fome.

(In: Poemas concebidos sem pecado,1937 - Manoel de Barros)

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Manoel de Barros

"Pela rua deserta atravessa um bêbado comprido
e oscilante
como bambu
assobiando...

Ao longo das calçadas algumas famílias
ainda conversam
velhas passam fum nos dentes, mexericando...
Nhanhá está aborrecida com o neto que foi estudar
no Rio
e voltou de ateu
- Se é pra disaprender, não precisa mais estudar

Pasta um cavalo solto no fim escuro da rua
O rio calmo lá embaixo pisca luzes de lanchas
acordadas
Nhanhá choraminga:
- Tá perdido, diz que negro é igual com branco!"

(In: Poemas concebidos sem pecado,1937 - Manoel de Barros).

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Metade cheio

Por trás do teu escuro
te busco
insisto que existe
complexidade humana digna.

Às vezes me assusta
algumas pistas são falsas
e descubro
o escuro
não do profundo
mas do vazio.

Ai que frio.

domingo, 27 de junho de 2010

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Hoje Saramago se foi

Educar para a paz
Por Fundação José Saramago

Resulta muito mais fácil educar os povos para a guerra do que para a paz. Para educar no espírito bélico basta apelar aos mais baixos instintos. Educar para a paz implica ensinar a reconhecer o outro, a escutar os seus argumentos, a entender as suas limitações, a negociar com ele, a chegar a acordos. Essa dificuldade explica que os pacifistas nunca contem com a força suficiente para ganhar… as guerras.

“Israel vive às custas do Holocausto”, em Palestina existe!, Madrid, Foca, 2002 [Prólogo e edição de Javier Ortiz] [Entrevista de Javier Ortiz]

Fonte: http://caderno.josesaramago.org/2010/06/03/educar-para-a-paz/

sábado, 5 de junho de 2010

outro meu

Drop lines

When I get older, losing my hair, many years from now
And you are the youngest star in the sky
Will I be missing you
Or will I be asking why

If I drop you the line
And say yes I will marry you
Will my life always shine
Or will it turn blue

You need me to need you
You need me to feed you
When you’re sixty-four

But will I be fed
Or will I regret
opening this door


(Ana Amália - 20/05/2010)
Poema com tema e primeiro verso propostos pela prof. Maria Fachin na disciplina de Creative Writing in English - Letras/PUC-SP

domingo, 23 de maio de 2010

um meu

Poema para o 3º G

Pensaram poder
pelo menos
parar o tempo
e ficar ali mesmo
lendo poemas

quiseram começar
caber em coisas
coisificadas em versos:

aprendiam poesia.

Lucas se viu com perucas
Duda não teve mais dúvidas:
viu Fernando pedalando
e saiu recitando
um poema que estava dando medo
em João Pedro

“Que esquisitisse”,
pensou Clarice,
ao ver o artista Michel
pintando mesmo sem papel

E então o Felipe
fez uma casa de pau-a-pique
convidou o Eduardo Ferreira
mas ele preferiu uma de madeira

Com um quente cachecol
lá estava Carol
curtindo o maior sol
junto com Valentina
que só queria saber
de jogar serpentina

Já a Fernanda ganhou um panda
do Lucas G
que não quis nem saber
porque é que o Gui
não conseguia parar de rir

E então chegou Luciana
recitando um poema bacana
para o menino Dudu
que estava de cabelo azul!

Foi no meio dessa dança
que a turma sentiu a mudança:
depois que aprenderam poesia
os dias ganharam alegria!

(Ana Amália - 21/05/2010 - brincando de rimar com fins pedagógicos: meus alunos estão tendo contato com poesia pela primeira vez).

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Pablo Neruda

LIX

Por qué no nací misterioso?
Por qué crecí sin compañía?

Quién me mandó desvencijar
las puertas de mi propio orgullo?

Y quién salió a vivir por mí
cuando dormía o enfermaba?

Qué bandera se desplegó
allí donde no me olvidaron?


(In: Libro de las preguntas).

sábado, 8 de maio de 2010

Frederico Barbosa

Avenida Brasil, SP

flor de farol
colhida às pressas
entre o tédio maquinal da marcha lenta

sinal
de diferença
em meio à indiferença metálica
desses corpos impessoais
na agonia
da imobilidade densa

semáforo
signo insano
ensaio de abalo sísmico
lente de aumento
no amor e na impaciência

(Do livro Rarefato).

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Alice Ruiz

minha voz
não chega aos teus ouvidos

meu silêncio
não toca teus sentidos

sinto muito
mas isso é tudo que sinto

(Do livro PELOS PÊLOS, 1984)

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Eucanaã Ferraz

Mais doce

Confesso: não pude desamar de ti.
Tornei-me, então, tua mãe.

Afinal, não serias o meu homem,
eu sabia. Não vacilei, e dedico-me

à condição mais intestina,
mais doce – a de quem cozinha,

cose, espera, cala, tece,
aconselha, espera, vela

(mesmo que não, é como se fosse),
à condição de quem vê passar

o tempo no cabelo, nos gestos,
nas histórias, nos amigos, nos dentes

do seu pequeno príncipe, do seu dolorido,
do seu príncipe feliz.

Porque não me querias como homem,
porque não poderia ser teu pai,

restou-me não ser menos que este amor
que segue ao teu lado

mesmo quando é tão distante teu caminho,
teu silêncio, teu passo rápido, teu sonho.

Choro,
que o destino das mães é sempre triste.

Porque é triste não poder ser
a mulher do seu menino.


(Eucanaã Ferraz)

in Rua do mundo. São Paulo: Companhia das Letras, 2004.
in Rua do mundo. Vila Nova de Famalicão: Quasi Edições, 2007.

sábado, 24 de abril de 2010

Um pouco de poesia latina para nós: Mario Benedetti

ES TAN POCO

Lo que conoces
es tan poco
lo que conoces
de mí
lo que conoces
son mis nubes
son mis silencios
son mis gestos
lo que conoces
es la tristeza
de mi casa vista de afuera
son los postigos de mi tristeza
el llamador de mi tristeza.

Pero no sabes
nada
a lo sumo
piensas a veces
que es tan poco
lo que conozco
de ti
lo que conozco
o sea tus nubes
o tus silencios
o tus gestos
lo que conozco
es la tristeza
de tu casa vista de afuera
son los postigos de tu tristeza
el llamador de tu tristeza.

Pero no llamas.
Pero no llamo.

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Táctica y estrategia


Mi táctica es
mirarte
aprender como sos
quererte como sos

mi táctica es
hablarte
y escucharte
construir con palabras
un puente indestructible

mi táctica es
quedarme en tu recuerdo
no sé cómo ni sé
con qué pretexto
pero quedarme en vos

mi táctica es
ser franco
y saber que sos franca
y que no nos vendamos
simulacros
para que entre los dos
no haya telón
ni abismos

mi estrategia es
en cambio
más profunda y más
simple

mi estrategia es
que un día cualquiera
no sé cómo ni sé
con qué pretexto
por fin me necesites.

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No te salves

No te quedes inmóvil
al borde del camino
no congeles el júbilo
no quieras con desgana
no te salves ahora
ni nunca
no te salves
no te llenes de calma
no reserves del mundo
sólo un rincón tranquilo
no dejes caer los párpados
pesados como juicios
no te quedes sin labios
no te duermas sin sueño
no te pienses sin sangre
no te juzgues sin tiempo

pero si
pese a todo
no puedes evitarlo
y congelas el júbilo
y quieres con desgana
y te salvas ahora
y te llenas de calma
y reservas del mundo
sólo un rincón tranquilo
y dejas caer los párpados
pesados como juicios
y te secas sin labios
y te duermes sin sueño
y te piensas sin sangre
y te juzgas sin tiempo
y te quedas inmóvil
al borde del camino

y te salvas
entonces
no te quedes conmigo.

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Os três poemas são do uruguaio Mario Benedetti, selecionados por mim hoje de manhã, no café da manhã.

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Momento histórico

Hi, Ana Amalia Alves.
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Hi, Ana Amalia Alves.
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terça-feira, 13 de abril de 2010

Profissão de fé

Não gosto de associar a ideia de luta com a de poesia, porque não gosto de violência. Mas quando falo em Militância Poética proponho aqui, com vocês, uma luta para o fim das lutas, uma luta pelo imaginário, pelo simbólico, e pelo prazer.

Um compartilhamento social da subjetividade.

É por isso que eu luto, e milito.

Que as palavras tenham a força de tocar naquilo que nos faz a todos humanos.

Para quem tem interesse em me ler, e dialogar comigo, meu muito obrigada.

E sejam bem vindos.